“Go the *** to sleep” é uma expressão de impaciente cansaço que muitos pais, em várias línguas, terão já proferido. É também o título de um livro ilustrado que trouxe a um novelista norte-americano uma fama mundial com a qual não estava a contar. No início, Adam Mansbach só queria encarar com sentido de humor o facto da filha Vivien (agora com três anos) lhe fazer a vida negra na hora de dormir. Acabou por escrever um livro que vendeu mais do que tudo o que escrevera antes junto, vários romances em redor das subculturas e dos universos marginais.
O livro colorido, semelhante em tudo aos livros de histórias para crianças, foi lançado em Junho nos Estados Unidos e este mês em Portugal, com o título de “Vai dormir, f*da-se” (Arte Plural Edições). Mistura o universo carinhoso das histórias para dormir, com animais, florestas e tranquilas paisagens nocturnas, com a mais pura expressão de impaciência dos pais que perdem os seus serões a tentar adormecer os filhos pequenos. São quadras, em páginas ilustradas cores intensas por Ricardo Cortés (outro artista ligado às subculturas), rematadas sempre com algo como “f*da-se, dorme por favor” e outras variações (leia-se palavrões).
É, na verdade, uma rábula aos livros infantis – é um livro para pais exaustos, mas capazes de se rir de si mesmos. Não é, de todo, um livro para os pais lerem aos filhos; quanto muito, é um livro para os pais lerem uns aos outros e experimentarem uma catarse de comédia. “O que este livro provou é que os pais seguramente têm sentido de humor. O livro não teria tido o sucesso que teve se não fosse esse o caso”, disse Adam Mansbach. Neste momento, até há já direitos para filme vendidos à Fox e um audiolivro, com Samuel L. Jackson a declamar as quadras, cujo excerto pode ser visto no YouTube.
Adam Mansbach já era um escritor reconhecido e premiado nos Estados Unidos por livros como “The end of the jews” e “Angry black white boy”, mas foi o sono difícil da filha Vivien que o catapultou para o sucesso mundial – o livro foi até editado na China e na Índia. “É reconfortante saber que essa luta é transversal a várias culturas”, disse, confessando ter sido apanhado desprevenido pelo êxito do livro, cujo lançamento nos Estados Unidos foi antecipado de Outubro para Junho, depois de um pdf da obra ter “escapado” para a Internet antes da publicação. Ainda assim, a primeira edição estava já pré-comprada, com 275 mil cópias e o “Vai dormir, f*da-se” esteve várias semana no Top 10 da Amazon.
O autor entende que o livro foi acolhido com tanto entusiasmo “porque é honesto e porque permite aos pais uma muito necessária libertação”. “A parentalidade pode ser solitária, particularmente porque temos tendência a temer o julgamento dos outros e temos dificuldade em admitir todo o espectro de emoções que a experiência inspira – nem todas são calorosas e enternecedoras”, referiu Adam Mansbach.
“Penso que a única maneira de aliviar a revolta que vem desta situação – ver a nossa preciosa janela de idade adulta desaparecer enquanto passamos duas horas num quarto escuro com um miúdo que permanece teimosamente acordado – é rirmo-nos disso. Não estou a sugerir que isto o vai tornar propriamente divertido, mas pôr isso em perspectiva e ter a noção de que não estamos sozinhos são passos na direcção certa”, salientou o autor ao JN, numa entrevista por e-mail.
O uso do palavrão é, diz Mansbach, “parte da honestidade”. “Não é para provocar, mas porque essa é a realidade do monólogo interior dos pais”, indicou. Curiosamente, as edições em língua portuguesa (Portugal e Brasil) são as únicas a usar um asterico na palavra “f*da-se”. Dora Mota
Auch :)
ResponderExcluirdesperou-me a vontade de ler...
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