2011-06-04

Sou do Porto...

Quando comecei a escrever aqui, e isto aconteceu à coisa de 3 dias, disse que gostava que me conhecessem. Pois bem, este pequeno devaneio foi escrito por mim, à cerca de 2 meses.
E como todos os dias algo me recorda e chama à atenção do meu pequeno cantinho, resolvi partilhar a minha história convosco. Espero que consigam sentir a emoção, o carinho e o amor que nutro pela minha cidade e imensa saudade que tenho por ela.

Sou do Porto, freguesia de Massarelos. Nasci, cresci e vivi na mesma casa mais de duas décadas.

Circunstâncias idênticas a muitos portugueses, fez-me aceitar desafios profissionais em Lisboa. Até aqui, a Capital tinha sido visitada apenas meia dúzia de vezes e com 25 anos achamos que queremos tudo e podemos agarrar o céu e a terra com as mãos e pensamos que finalmente teria chegado a oportunidade de sair da casa dos pais pela primeira vez e aventurar pelo “mundo”.

No espaço de uma semana aceitei o desafio, comuniquei à família e fiz as malas. Simples!

Lisboa é linda, tem paisagens de cortar a respiração. Lisboa tem uma luz que realmente é indescritível…. Lisboa é uma amante que nos dá muito, mas também tira tudo. Por isso, e embora enfeitiçada, não consigo me apaixonar por ela.

Fico frustrada ter que fazer quase uma hora para chegar à praia, quando os autocarros 37 ou 78 faziam isso em 15 minutos até à Foz.

Sinto saudades da frontalidade das gentes, que doa a quem doer dizem tudo o que lhes vai na alma e ninguém leva a mal.

Faz-me falta ter tempo. No Porto tinha tempo para tudo e em Lisboa não tenho tempo para nada (condicionalismos de uma cidade imensa com uma população enorme).

Sinto pena e tristeza que um pequeno gesto de carinho, como comprar algo para oferecer aos colegas, seja levado com cepticismo e reservas, quando no Porto as pessoas perguntam logo “É pá, e não compraste mais porquê? Achas que isso dá para a cova de um dente?”. Ninguém fica ofendido e se ficar, ninguém leva a sério.

Sinto falta da proximidade das minhas pessoas, do cheiro das ruas, das cores cinzentas dos passeios e da luz opaca do céu que lhe confere um mistério singular. Dói-me o peito de saudades do ambiente inebriante da cidade. Sinto um amor tão profundo e fico com lágrimas nos olhos sempre que atravesso a ponte e revejo o Porto.

É difícil explicar este sentimento a um visitante ou a quem não pertença a esta cidade, mas apenas posso dizer que, para mim, a música do Rui Veloso nunca fez tanto sentido.

No espaço de uma década cresci profissionalmente, amadureci pessoalmente e a minha vida levou uma volta de 180º… e todas as minhas prioridades mudaram. Os filhos e um marido fantástico fazem-me bem.

Se calhar as reservas de amar esta linda cidade, se devam ao individualismo das pessoas “distantes”; se calhar são as saudades da minha família e dos meus amigos; Provavelmente é o imenso orgulho que tenho da região e das suas gentes faz querer sempre mais.

Quero e preciso voltar à minha casa.

Quero expandir a minha alegria e a minha felicidade à família em que nasci e misturá-la numa palete com a família que criei.

Não me levem a mal… Agradeço tudo o que conheci, o que vi e algumas pessoas que me ficam no coração. Sobretudo, sou eternamente grata pela família que construí e pelas oportunidades que me deram, mas preciso de mais…

Lisboa gosto de ti, mas não te Amo… És alguém que respeito, mas não me fazes os olhos brilharem.

Preciso do Porto, que é tão brutalmente honesto que me faz suspirar só para o ver. Preciso sentir o baque forte do coração só de prever a ânsia de o rever. Quero adormecer e ter esperança de sonhar com ele…

Sandra Monteiro - 13 Abril 2011

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